São José dos Campos
Cerca de 30 dependentes químicos adotaram escombros do Pinheirinho, na zona sul de São José dos Campos, como nova cracolândia.
Entre os usuários de drogas, estão ex-moradores do acampamento sem-teto, que dizem ter se tornado moradores de rua após a reintegração de posse, ocorrida no último dia 22 de janeiro.
A nova cracolândia se instalou às margens da Estrada do Imperador, no final do Pinheirinho. Quem mora ou trabalha na região, reclama dos transtornos trazidos pelos usuários.
À noite, mulheres e travestis se espalham pela avenida para se prostituir. Homens pedem dinheiro a pessoas na rua para comprar drogas. Entre as usuárias, está uma mulher grávida de oito meses.
“Tem muita gente bem vestida, que chega à noite, usa crack e vai embora. É um movimento enorme”, diz o motorista R, de 28 anos.
A Secretaria de Desenvolvimento Social afirma que assistentes sociais vão ao local duas vezes por dia, mas enfrentam resistência por parte dos usuários.
“Conversamos com essas pessoas na intenção de ganhar a confiança delas. Queremos oferecer tratamento ou abrigo para estas pessoas”, diz João Francisco Sawaya, o Kiko, secretário de Desenvolvimento Social.
Rotina. Durante a noite, os usuários de crack improvisam um barraco, que fica encostado na mureta que divide o Pinheirinho de um comércio.
A tenda, com aproximadamente um metro de altura é usada pelos dependentes para o consumo da droga. Os outros ficam de fora, aguardando a chance de ‘pipar’.
A rotatividade é grande. O VALE flagrou um usuário que parou o carro no local, entrou na barraca e, depois, deixou a área com uma garota de programa. “Eles brigam entre si, gritam de um lado para o outro, fazem as necessidades em qualquer lugar e passam insegurança. Isso tem de acabar”, diz um morador.
Incidente. Pela manhã, os dependentes químicos dormem em algumas calçadas de comércios, o que incomoda ainda mais os comerciantes.
“Os seguranças retiram eles do Pinheirinho, eles vêm para a calçada. Após um tempo, eles acordam e voltam para o terreno”, diz um comerciante.
Por volta das 9h30 de ontem, um conflito: um usuário de drogas teria xingado um guarda municipal, que reagiu e atirou quatro balas de borracha contra os dependentes. Ninguém foi atingido.
Segundo a prefeitura, o guarda atirou contra uma camionete que acelerou na direção do veículo.
Movimento. No momento do incidente cerca de cinco pessoas estavam na área do Pinheirinho. Mas, logo o número aumentou.
A tenda improvisada foi desmontada e os dependentes passaram a usar drogas encostados nas árvores que margeiam a calçada. Rapidamente, outras pessoas se aproximam.
“Sei que estou me matando e meu filho também, mas não consigo parar. Tento usar menos crack agora”, diz T. 21 anos, grávida de oito meses.
PM. A Polícia Militar informou que irá atuar em conjunto com a prefeitura no atendimento.
“Infelizmente, o problema é mais social. Nós fazemos revistas, mas não encontramos nada de irregular e não podemos expulsar alguém de área privada a menos que haja a queixa do proprietário”, diz o capitão Ricardo Ivo Gobbo.
'Não basta expulsar da área", diz especilaista
São José dos Campos
A única forma de combater o consumo do crack é oferecer tratamento personalizado aos dependentes.
Esta é a opinião da psicóloga Luciane Ogata, pesquisadora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e especialista em dependência.
Segundo Luciane, expulsar os usuários é apenas uma forma de fazer com que eles se espalhem e ocupem outras áreas, assim como aconteceu na Cracolândia, na capital.
“Impor a força, expulsar o usuário e, depois, oferecer o tratamento não dá certo. O correto é conhecer o perfil de cada pessoa para fazer uma abordagem adequada.”
A psicóloga também cita um estudo que está sendo realizado pela Unifesp para padronizar diversas formas de tratamento contra a dependência.
“Não pode existir apenas um tratamento. Cada paciente tem sua necessidade”, diz.
Grávida. A psicóloga é contra a internação forçada de dependentes químicos, mas diz que em casos como o de T. grávida de oito meses, deve ser aberta uma exceção.
“É uma dependência mais grave, de grande risco à saúde da criança”, afirma Luciane.
Prefeitura tem 45 pessoas internadas
Desde junho do ano passado, a prefeitura de São José oferece tratamento a dependentes químicos moradores de rua. Atualmente, 45 pessoas estão internadas em uma clínica no Parque Interlagos, na zona sul. Após receberam alta do tratamento, as pessoas recebem uma bolsa de estudos no Senai ou Senac e recebem uma bolsa-auxílio de R$ 516 por mês durante um ano e meio.
Entulho é atrativo para dependentes
A Selecta, responsável pelo Pinheirinho, tinha prazo até 17 de fevereiro para limpar a área. Atualmente, o entulho gerado pela demolição das 1.500 casas continua no local. O lixo é um dos principais atrativos para os usuários, que recolhem material e vendem a depósitos de reciclagem para obter dinheiro. Ninguém da Selecta foi localizado ontem para comentar o assunto.
ENTENDA O CASO
Abandono
Desde a reintegração de posse, no dia 22 de janeiro, o Pinheirinho está vazio e cheio de entulho. Cerca de 10 vigilantes fazem a segurança da área de 1,3 milhão metros quadrados, que possui cerca em apenas alguns trechos
Invasão
Ex-moradores do Pinheirinho, que são dependentes químicos, voltaram para a área, onde consomem crack durante todo o dia. Outros viciados se juntaram ao grupo e, atualmente, cerca de 30 pessoas usam o local para consumir crack. À noite, há rotatividade de usuários de outras regiões
Reclamação
Moradores e comerciantes da região em torno do Pinheirinho reclamam da bagunça feita pelos usuários de crack. Eles dormem nas calçadas de casas, pedem dinheiro às pessoas na rua; mulheres e travestis se prostituem para comprar drogas
Ação
Os moradores cobram uma ação do Poder Público para auxiliar os dependentes químicos. A prefeitura afirma que faz rondas com assistentes sociais para conversar com os usuários e oferecer abrigo e tratamento nos casos mais graves de dependência. No entanto, os dependentes têm resistido ao auxílio
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